O contato em “terceira mão” de uma grávida com a fumaça produzida pelos cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, pode afetar o bebê que ainda não nasceu, como mostram evidências recentes publicadas na revista científica American Journal of Physiology-Lung Cellular and Molecular Physiology.
Isso acontece porque, segundo os pesquisadores, a fumaça do vape, que contém propilenoglicol, glicerol, nicotina, sabores e outros aditivos, “se agarra” a objetos próximos de quem está fumando e até mesmo na pele das pessoas ao redor. Então, a mulher grávida que estiver por perto pode entrar em contato com esses resíduos.
“Quando os vapes são usados em ambientes fechados ou em um veículo, o vapor condensa nas superfícies formando uma camada espessa e oleosa, e esse resíduo pode ser absorvido pela pele. Pesquisas anteriores mostraram que a vaporização durante a gravidez pode causar sérios danos ao bebê, incluindo aumento do risco de natimorto, baixo peso ao nascer e problemas de desenvolvimento”, disse o coautor do estudo, o distinto professor Brian Oliver, da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS) e do Instituto Woolcock de Pesquisa Médica, em comunicado.
O estudo, feito em camudongos, mostrou que isso levou a efeitos significativos e duradouros nas respostas de uma célula chamada T CD8+, parte do sistema imunológico. Elas são consideradas essenciais para o combate de infecções de diversos tipos e até mesmo do desenvolvimento de câncer.
“Visitantes às casas de amigos ou parentes que usam vape podem não perceber que estão sendo expostos a produtos químicos nocivos apenas por tocar em bancadas ou sentar no sofá. Pessoas que usam vape precisam entender que isso não afeta apenas elas”, alerta Richard Kim, coautor da pesquisa.
Vapes são proibidos no Brasil
Um dos principais motivos é porque eles causam dependência devido à presença da nicotina. Uma pesquisa do Hospital das Clínicas da USP indicou que o cigarro tradicional apresenta um limite de 1 mg desta substância, já os eletrônicos podem chegar a 57 mg por ml. Ainda, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), um único vape equivale a um maço com 20 cigarros.
Outro ponto defendido por especialistas é que os aparelhos apresentam até 2 mil substâncias, a maioria sem origem ou nome revelados. Suas embalagens coloridas e sabores frutados são considerados fatores atrativos para adolescentes, considerados os principais consumidores dos cigarros eletrônicos.
Uma pesquisa feita pela Universidade College London (UCL), na Inglaterra, em parceria com a Universidade de Innsbruck, na Áustria, descobriu que estes aparelhos podem danificar o DNA, o que possivelmente indica a possibilidade de desenvolvimento de câncer.
Desta forma, no Brasil, a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a produção, distribuição, armazenamento e transporte dos vapes. Esta medida reforça a já existente desde 2009 que veda a importação, a comercialização e a propaganda em território nacional.
Por Agência O Globo