Em meio às negociações para um possível cessar-fogo na guerra que já dura mais de três anos, a Rússia reiterou no domingo (16) que só aceitará um acordo de paz com a Ucrânia se houver garantias firmes de que o país vizinho não entrará na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A declaração foi feita pelo vice-ministro das Relações Exteriores russo, Alexander Grushko, em entrevista à agência estatal RIA Novosti, destacando que a neutralidade ucraniana é uma condição inegociável para Moscou.
Grushko enfatizou que “um dos elementos mais importantes são os interesses de segurança da Rússia”, apontando que qualquer pacto deve garantir que a Ucrânia permaneça fora da aliança militar liderada pelos Estados Unidos. “Não estamos falando apenas de uma promessa verbal, mas de garantias jurídicas internacionais sólidas que excluem a adesão da Ucrânia à OTAN em qualquer formato”, afirmou o diplomata. Ele também criticou a postura da OTAN, que, segundo ele, mantém uma política de portas abertas para Kiev desde a cúpula de Bucareste, em 2008, decisão que Moscou considerou uma ameaça direta à sua segurança.
A posição russa surge em um momento delicado das tratativas de paz. Na semana passada, a Ucrânia aceitou uma proposta de cessar-fogo apresentada pelos Estados Unidos durante as negociações na Arábia Saudita, que incluía a suspensão total dos combates na linha de frente, no mar e no espaço aéreo. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou a iniciativa como “positiva” e afirmou que o seu país está “pronto para a paz”, mas ressaltou que a decisão agora depende da Rússia. Moscou, no entanto, não participou dessas conversas e ainda não respondeu oficialmente à proposta americana.
A exigência de neutralidade não é nova. Desde o início do conflito, em fevereiro de 2022, o Kremlin tem condicionado o fim das hostilidades a concessões significativas por parte de Kiev, incluindo o reconhecimento das regiões anexadas pela Rússia – como a Crimeia e partes do Donbass – e a desmilitarização do território ucraniano. A OTAN, por sua vez, tem se mostrado relutante em oferecer garantias formais de exclusão da Ucrânia, o que mantém o impasse nas negociações.
Enquanto isso, a guerra continua causando devastação. Na noite de sábado (15), a Rússia lançou uma ofensiva com 267 drones contra alvos ucranianos, um recorde desde o início do conflito, segundo autoridades de Kiev. A intensidade dos ataques aumenta a pressão sobre as partes envolvidas para encontrar uma solução, mas as condições impostas por Moscou podem dificultar um entendimento. “A Rússia deve mostrar se quer paz ou se prefere prolongar a guerra”, declarou Zelensky num vídeo recente, apelando por uma “verdade completa” nas negociações.
Os analistas apontam que a exigência de neutralidade reflete o temor russo de uma maior aproximação do Ocidente às suas fronteiras, um ponto de tensão que remonta à expansão da OTAN no Leste Europeu após o fim da Guerra Fria. Enquanto as conversas avançam, a comunidade internacional observa com atenção os próximos passos, ciente de que o futuro da Ucrânia e da segurança europeia está em jogo.
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