MP vai investigar torcidas que agem como ‘facções criminosas’

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Foto: Montagem/g1

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram a emboscada e agressões de palmeirenses com paus e rojões contra cruzeirenses, na madrugada de domingo (27) em Mairiporã, Grande São Paulo. Um torcedor do Cruzeiro morreu e outros 17 torcedores do time mineiro ficaram feridos.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) informou que vai acompanhar as investigações da Polícia Civil para identificar e responsabilizar os torcedores do Palmeiras investigados pela morte do cruzeirense José Victor Miranda, de 30 anos, e dos ferimentos nos demais torcedores do Cruzeiro.

Segundo o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, chefe do MP estadual, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da Promotoria, vai investigar torcidas que agem como “facções criminosas”.

“Tal episódio é inaceitável e representa uma grave afronta à segurança pública e à convivência pacífica em nossa sociedade”, informa nota divulgada pelo procurador-geral Paulo Sérgio, por meio da assessoria de imprensa do MP. “Há firmes evidências de que algumas torcidas organizadas atuam como verdadeiras facções criminosas, o que justifica a intervenção do Gaeco”.

O procurador ainda classificou as cenas dos vídeos como “selvageria” “inaceitável” e informou que um promotor do Gaeco do MP de São Paulo irá atuar junto à polícia para punir os culpados. Um promotor de Minas Gerais irá orientar as vítimas e parentes delas.

“Que fique claro: quem age ao arrepio da lei deve responder por seus atos. E a sociedade brasileira pode continuar a contar com o MPSP para que isso aconteça”, escreveu o procurador-geral Paulo Sérgio no comunicado.

O que dizem as polícias

Segundo a Polícia Civil, a Polícia Militar (PM) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) todas as vítimas do confronto são de uma torcida organizada do Cruzeiro.

“De acordo com informações preliminares, torcedores do Cruzeiro sofreram uma emboscada de torcedores organizados do Palmeiras”, informa trecho da nota divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), responsável pela Polícia Civil e pela PM no estado de São Paulo.

José Victor, o cruzeirsense que morreu, era membro da torcida organizada Máfia Azul de Sete Lagoas, na região central mineira. O cruzeirense teve a morte confirmada ao dar entrada Hospital Anjo Gabriel em Mairiporã.

A causa da morte dele não foi divulgada. Segundo parentes de José Victor ouvidos pela reportagem, a informação que tiveram é de que ele teria morrido dentro de um ônibus incendiado. A polícia ainda não confirmou isso. Um laudo pericial irá apontar o que o matou.

Um parente do torcedor virá de Sete Lagoas a Mairiporã para liberar o corpo para ser enterrado na cidade onde ele morava. Ele tinha dois irmãos, era separado e deixa um filho de 7 anos.

Catorze dos feridos foram socorridos por ambulâncias e levados para o hospital Anjo Gabriel, em Mairiporã. Outros três seguiram para outro hospital em Franco da Rocha, município vizinho. Os estados de saúde deles não foram divulgados.

A pasta da Segurança não informou se a polícia paulista identificou e prendeu os torcedores do Palmeiras responsáveis pela emboscada contra os do Cruzeiro. Vídeos que circulam nas redes sociais serão analisados pela investigação para tentar saber quem são esses palmeirenses.

A Polícia Civil também investiga o motivo do ataque da torcida do Palmeiras contra os cruzeirenses.

“O boletim de ocorrência está em elaboração pela Delegacia de Mairiporã, que requisitou perícia ao local. Mais informações serão fornecidas ao término do registro”, informa outro trecho do comunicado da SSP.

Torcidas brigaram em 2022 em MG

Em 29 de setembro de 2022 uma briga entre as torcidas organizadas do Cruzeiro, a Máfia Azul, e a do Palmeiras, a Mancha Alviverde, terminou com quatro pessoas baleadas e outras dez feridas na Praça de Pedágio da BR-381, em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste de Minas Gerais.

À época, um vídeo compartilhado na internet mostrou um palmeirense caído no asfalto enquanto era agredido. Era possível ouvir os agressores dizendo: “A Mancha perdeu, não bate mais não, não bate mais não”.

Policiais ouvidos pela reportagem disseram que vão apurar se a emboscada deste domingo foi uma vingança contra essa briga ocorrida há mais de dois anos em Minas Gerais. Essa é uma das hipóteses que serão investigadas.

O confronto desta madrugada envolveu cerca de 150 torcedores entre palmeirenses e cruzeirenses, segundo informações iniciais da PRF. De acordo com os agentes, os palmeirenses usaram pedaços de madeira e usaram fogo para atacar os cruzeirenses.

Ao menos dois ônibus da torcida do time de futebol de Minas Gerais foram atingidos. Um deles foi incendiado e outro teve os vidros quebrados. A torcida do Palmeiras estava e outro ônibus, de acordo com a Polícia Civil.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o confronto entre as torcidas ocorreu por volta das 5h20, no km 65 da via, sentido Belo Horizonte. Informações iniciais dos policiais dão conta de que ônibus com os torcedores rivais se cruzaram, pararam na via e iniciaram o tumulto.

O g1 também tenta identificar quais são as torcidas organizadas dos clubes de futebol envolvidas no confronto. Elas estão sendo procuradas para se posicionarem sobre o caso.

A Polícia Militar foi acionada por testemunhas para ir ao local atender a ocorrência. O Corpo de Bombeiros também foi mobilizado e apagou as chamas do ônibus. Ainda não há confirmação se algum torcedor se queimou.

Segundo a PRF, os palmeirenses tinham acompanhado o empate por 2 a 2 entre o Palmeiras e o Fortaleza, no sábado (26) na capital paulista. Os cruzeirenses, de acordo com os policiais, retornavam de Curitiba, no Paraná, onde o Cruzeiro perdeu por 3 a 0 para o Atlético Paranaense. Todas as equipes disputam o Campeonato Brasileiro de futebol masculino.

O que diz o Cruzeiro

Por meio de nota divulgada no X, o Cruzeiro lamentou a morte e os ferimentos em seus torcedores.

“O Cruzeiro lamenta profundamente mais um episódio de violência entre torcedores, desta vez durante a madrugada, na rodovia Fernão Dias, que culminou com a morte de um cruzeirense e vários feridos. Não há mais espaço para violência no futebol, um esporte que une paixões e multidões. Precisamos dar um basta a esses atos criminosos”, informa o comunicado do clube que tem sede em Belo Horizonte, capital mineira.

O que diz o Palmeiras

Também por meio de nota, o Palmeiras informou que não tolera ações violentas de seus torcedores.

“A Sociedade Esportiva Palmeiras repudia as cenas de violência protagonizadas na Rodovia Fernão Dias, na manhã deste domingo. O futebol não pode servir como pano de fundo para brigas e mortes. Que os fatos sejam devidamente apurados pelas autoridades competentes e os criminosos, punidos com rigor”, informa comunicado divulgado pelo clube por meio de sua assessoria de imprensa.

O que diz a Arteris

A Arteris Fernão Dias, concessionária responsável pelo trecho, informo que um trecho da rodovia teve de ser interditado por seus funcionários por causa do tumulto entre as torcidas.

“Para manter a segurança de usuários e colaboradores, a pista ficou interditada entre 5h14 e 6h30. Equipes do Cobom, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar foram acionadas para o atendimento da ocorrência”, informa trecho da nota divulgada pela Arteris sobre a interdição temporária de um trecho da via, bem como da atuação do Corpo de Bombeiros, o Cobom.

O que diz o governador de SP

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) usou sua rede social no Instagram para repudiar o ataque dos palmeirenses aos cruzeirenses.

“Repudio veementemente o lamentável ataque ao ônibus do Cruzeiro nesta manhã, na Fernão Dias. Essa barbaridade deixou uma pessoa morta e doze feridos. Futebol não deve jamais ser sinônimo de nada similar a esse completo absurdo. Vamos investigar, identificar e punir severamente os responsáveis por esse crime. Lamento profundamente pela vida perdida e pelos feridos, e reforço meu compromisso de que essa atrocidade não ficará impune!”

g1