Milei diz que Argentina é exemplo de responsabilidade fiscal

Apresentado como um dos principais destaques do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, o presidente da Argentina, Javier Milei, disse em plenária na quinta-feira (23) que em um ano seu país passou de pária a exemplo mundial após o duro ajuste fiscal executado por ele. Também criticou o que chama de “cultura woke”, elogiou Elon Musk e disse que o fórum onde se apresenta é responsável por disseminar “ideias daninhas”.

“Um ano depois de discursar neste palco já não me sinto tão só, pois o mundo abraçou a Argentina. A Argentina virou um exemplo de de ajuste fiscal”, declarou Milei minutos após ser recebido sob aplausos por uma plateia cheia. O argentino disse que seu país voltou a ter importância no mundo e que deve reviver seus anos de auge, após décadas do que definiu como fracasso e perda de relevância.

Depois de resumir as medidas econômicas que tomou, objeto de apreço pela plateia em Davos, Milei se lançou em um discurso no qual criticou o feminismo, o ambientalismo, a imigração e os direitos civis de pessoas LGBTQIA+ e criminalizou a existência de pessoas trans, além de criticar o direito ao aborto, um tema recorrente para o autodeclarado libertário.

“Chegamos ao ponto de, em países supostamente civilizados, se matam uma mulher chamam de feminicídio”, disse, em alusão ao Brasil. “Passamos a um ambientalismo fanático em que os seres humanos são um câncer a ser eliminado e que o desenvolvimento econômico virou um crime ambiental.”

Para um público que passou do entusiasmo com sua agenda econômica à estupefação com suas posições políticas e sociais, declarou que o wokismo -termo pejorativo que se refere a uma mistura de ideias progressistas de sociedade e economia com a agenda identitária- é o “atual câncer do mundo e precisa ser extirpado”, além de um combustível para a censura e um impeditivo ao liberalismo.

“Para o wokismo, se somos brancos, somos racistas, se somos homens, somos misóginos, se somos heterossexuais, somos homofóbicos”, afirmou. “É uma ideologia assassina”, continuou, citando como exemplo, mas sem maior explicação, que as pessoas transgênero são, em última instância, pedófilas.

A diversidade, assim como a proteção ambiental, são temas caros ao Fórum de Davos e sua plateia, que majoritariamente se posiciona do lado liberal do espectro econômico, mas também do lado progressista do espectro comportamental.

Milei não poupou essa bandeira e fez eco com o que vem declarando seu colega e aliado Donald Trump nos Estados Unidos: “O mérito foi deixado de lado pela doutrina da diversidade”.

“Se queremos mudar e defender os direitos dos cidadãos precisamos dizer a verdade, e a verdade é que as ideias difundidas por fóruns como este são prejudiciais.”

O argentino listou, no palco, seus aliados no que vê como aliança para eliminar o progressismo: a italiana Giorgia Meloni, o salvadorenho Nayib Bukele, o húngaro Victor Orbán e o americano Trump, todos identificados com a direita radical. Disse, também, que o que parecia uma hegemonia das ideias de esquerda vem sendo rompido, mas que a batalha ainda está ganha.

Para falar de liberdade de expressão, que vê cerceada pela esquerda, evocou Elon Musk, o dono da Tesla e do X, a quem chamou de “grande amigo” que está sendo “trucidado” após fazer um gesto em um comício de Trump que, segundo Milei, “tudo que representava era sua gratidão àquelas pessoas que estavam ali”.

O gesto de Musk, que duas vezes ergueu o braço com a mão espalmada para baixo, foi considerado uma repetição da saudação nazista por grupos judeus e progressistas.

Antes de encerrar o discurso de cerca de meia hora com seu bordão “viva a liberdade, carajo”, Milei sublinhou a importância do livre comércio, da desregulamentação e de ajustes.

Por essas medidas, que reduziram drasticamente a inflação ainda que com grande ônus social, Milei era aguardado com ansiedade no Fórum, apesar de seus ataques diretos à pauta do evento. A organização chegou a levar 50 executivos globais a Buenos Aires no ano passado para conversar com Milei e ver de perto as mudanças implementadas.

Ainda nesta quinta, Trump, principal tema do fórum por suas declarações a respeito de tarifas e imigração, falará por teleconferência à plateia em Davos.

FOLHAPRESS