“Se a universidade não mudar, ela vai desaparecer”, alertou Helena Nader, Presidente da ABC
Olhar para a juventude e, ao mesmo tempo, entender que a pirâmide demográfica brasileira está se invertendo, com queda no número de nascimentos e envelhecimento da população. Avançar na prática da interdisciplinaridade e formar pessoas preparadas para diferentes demandas da sociedade. Estes foram alguns dos alertas que Helena Nader, Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), fez durante a conferência “O futuro da Universidade: os desafios da pesquisa e da inovação”, que aconteceu em 27 de agosto na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Este foi o terceiro encontro do ciclo
“Universidade para o futuro”, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados e Estratégicos (IEAE) da Universidade.
Durante a sua exposição, Nader apresentou dados para, dentre outros aspectos, destacar o alto índice de jovens que não estudam e não trabalham e, justamente, a questão demográfica relacionada ao envelhecimento da população. “Eu trouxe esses dados para que a universidade olhe para o futuro e esse futuro é amanhã. O Brasil não está olhando como deveria para sua curva demográfica. A universidade precisa olhar para essa realidade e refletir sobre o perfil dos jovens que vão chegar às instituições. Precisa [a universidade] pensar: quais habilidades que eu tenho que passar para os meus estudantes? Como mostrar as mudanças que as profissões estão vivenciando? Como serão as mudanças na Ciência? Além disso, é preciso se adaptar e fiscalizar as novas tecnologias e entender que a educação a distância e a educação continuada vão permanecer”, refletiu, afirmando que as universidades encontrarão seus caminhos, cada uma com soluções distintas e específicas para suas realidades.
Nader também ponderou que a “queda na produção científica já indica que há diminuição do modelo que as universidades usam e esse modelo tem que mudar. A cômoda cheia de gavetas tem que ser um espaço conjunto de utilização, ou seja, precisamos da interdisciplinaridade. Somos acomodados e se a universidade não mudar ela vai desaparecer, vai perder o sentido. Nosso insumo é o indivíduo que está chegando à universidade e ele quer mais que o diploma, ele quer estar preparado para as demandas da sociedade. A educação continuada vai ser outra e vamos adaptar a tecnologia a isso, vamos reciclar pessoas cada vez mais para novas habilidades que o mercado demanda. É um desafio grande”, complementou a dirigente da ABC.
Além de Helena Nader, que integra o Conselho do IEAE, participou do evento Maycon Stahelin, assessor da Diretoria de Planejamento e Relações Institucionais da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
Stahelin apresentou a Embrapii, destacando o crescimento dos projetos nos últimos anos e apontando o avanço da unidade Embrapii UFSCar-Materiais. Diante dos desafios de pesquisa e inovação, ele pontuou o papel da empresa. “A gente vê a Embrapii não só como apoio à inovação, mas apoio técnico das nossas unidades e apoio financeiro de várias fontes. Entramos com dois pontos: apoio direto às demandas das empresas e somos inovação institucional aproveitando a estrutura de pesquisa já existente no País, usando o que já tem para atender as demandas. Nosso modelo é ágil, interessante para a empresa parceira e para a redução de custo do projeto”, destacou.
A curadoria da Conferência ficou a cargo dos docentes da UFSCar Adilson Jesus Aparecido de Oliveira, Diretor do IEAE, e Ernesto Pereira, Coordenador da Embrapii UFSCar-Materais. A íntegra da transmissão da atividade já está disponível no canal UFSCar Oficial no YouTube (https://bit.ly/4ea1Esb).
Ciclo
O Ciclo de Conferências “Universidade para o futuro” teve início no ano passado e a iniciativa pretende refletir sobre como a universidade – no Brasil e no mundo – precisa se repensar a partir das várias crises que a sociedade enfrenta, como a crise política, sanitária, de desinformação, além da emergência climática. Para o Diretor do IEAE e professor do Departamento de Física (DF) da UFSCar Adilson de Oliveira, “a universidade é uma instituição que não mudou muito nos últimos séculos, e é preciso que se olhe de um novo ponto de vista, para que também a sociedade a veja de forma diferente, para que perceba sua relevância, busque o espaço acadêmico para compartilhar e buscar soluções para os seus problemas, confie no potencial do conhecimento especializado, dentre outras interações possíveis”, expõe.
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