Brasil

Com déficit de R$ 200 milhões, Embrapa pode ter orçamento ainda menor em 2025

Foto: Divulgação/Embrapa

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) encerrou o ano de 2024 com um déficit orçamentário geral de aproximadamente R$ 200 milhões. Para 2025, a situação não deverá melhorar. A previsão é de que o orçamento para custear a atividade dos pesquisadores na ponta seja ainda mais reduzido.

Para o atual exercício, a proposta original do governo — ainda pendente de aprovação pelo Congresso Nacional — é destinar apenas R$ 137,4 milhões para o custeio de pesquisas, desenvolvimento e transferência de tecnologias para a agropecuária. Em 2024, o valor inicial aprovado foi de R$ 203,1 milhões. O montante sofreu cortes e foi reduzido para R$ 176,5 milhões.

A estimativa da Embrapa é que sejam necessários R$ 510 milhões para que os projetos em curso não sejam afetados. Esse foi o pedido feito ao governo para 2025. Segundo a empresa, após negociações no Congresso, o montante poderá ser elevado para R$ 161,6 milhões e mais R$ 29 milhões de emendas individuais, totalizando R$ 190,6 milhões.

Os pesquisadores reforçam que o orçamento de 2025 já é deficitário e ainda ficará sujeito a novos cortes e contingenciamentos, como ocorreu no ano passado. Eles relataram que atividades e projetos de pesquisa já tiveram que ser paralisados diante do aperto financeiro na empresa.

Em 2024, a Embrapa recebeu R$ 169,6 milhões no âmbito do Novo PAC para investimentos em modernização de laboratórios e campos experimentais e R$ 176,5 milhões para custeio de suas pesquisas, que envolvem 1.056 projetos em andamento. Contudo, os cortes orçamentários e bloqueios de recursos ao longo do ano dificultaram a execução de alguns desses projetos, além de comprometeram a quitação de despesas diversas e contratos continuados.

“Como ao longo de 2024 o orçamento da Empresa, assim como do conjunto dos órgãos do governo, em razão do ajuste fiscal, sofreu bloqueios e cancelamentos, essas medidas afetaram a condição de pagamento e quitação até dezembro de 2024 de despesas diversas e contratos continuados em todas as suas Unidades, além de ter impossibilitado o início de novos projetos de PD&I aprovados”, afirmou a Embrapa à reportagem.

De acordo com a própria empresa, a necessidade de suplementação orçamentária foi oficialmente comunicada ao Ministério da Agricultura e aos ministérios da área econômica desde julho de 2024. Além disso, a empresa buscou apoio no Congresso Nacional, mas não obteve sucesso na aprovação de um crédito suplementar pela Junta de Execução Orçamentária (JEO) da Casa Civil.

Um pesquisador com mais de cinco décadas de atividade na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) disse que a situação atual é complexa e muito complicada. “Nunca vi nenhuma crise tão séria quanto essa”, afirmou sob anonimato à reportagem. “Não temos dinheiro para pagar coisas básicas, como água, luz, telefone, internet, segurança e restaurante. Não estamos nem falando de pesquisa”, completou.

A situação afeta, em maior ou menor grau, todas as 43 unidades descentralizadas da Embrapa. Com passagens pela diretoria da estatal e em cargos de chefia de unidades, o pesquisador disse que há mais de dez anos não submete mais projetos de pesquisa para financiamento direto da Embrapa.

“Não adianta, o dinheiro não vem, não chega. Você fica apenas com compromissos e não recebe recursos”, apontou. A saída, segundo ele, é buscar fomento privado.

“Tão ou mais preocupante que a falta de dinheiro para manter a estrutura é a impossibilidade de fazer pesquisa com recursos próprios da Embrapa. Se o pesquisador não consegue recursos externos, fica extremamente complicado, quase impossível”, criticou.

“A redução do orçamento está impactando, ao longo da última década, diretamente, não só as pesquisas em andamento, mas também a implantação de novos projetos”, admitiu a empresa em nota enviada à reportagem.

Uma das novidades em 2024 foi a destinação de quase R$ 170 milhões para investimentos via Novo PAC. Na opinião do pesquisador ouvido pela reportagem, no entanto, a aplicação desse recurso agrava o problema da estatal. “Todo investimento necessita de um custeio associado. Se comprar um veículo, tem que pagar IPVA, colocar combustível, pagar seguro. Computador precisa de software, de manutenção. O custeio é o grande problema hoje”, explicou.

Internamente, há críticas quanto à lentidão de aplicação de melhorias para a estatal. Havia grande expectativa de modernização da gestão e criação de novas fontes de monetização da pesquisa no atual governo, o que não se concretizou.

Alguns pesquisadores começam a cobrar também um resultado efetivo das propostas encaminhadas pelo grupo de trabalho criado pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ainda em 2023, para sugerir melhorias na gestão e no financiamento da Embrapa. O grupo fez quase uma centena de recomendações. Poucas foram adotadas, parcial ou integralmente, e o restante já “caiu no esquecimento”, disse uma fonte. “Seria o momento de cobrar uma avaliação da proposta, quase dois anos após ter sido entregue ao Conselho de Administração”, completou.

Uma das iniciativas é aumentar a arrecadação de royalties. Mas a proposta não é unânime. “Não há instituto de pesquisas no mundo que sobreviva de royalties. O déficit do Tesouro Nacional já está virando crônico. Como não é possível mexer no vespeiro das emendas parlamentares, a equipe econômica restringe o dinheiro dos demais setores. O setor privado entende que já paga muito imposto e que, portanto, o financiamento da ciência tem que vir do Tesouro Nacional e ponto final”, disse a fonte.

Corte contínuo

Ao longo da última década, o orçamento discricionário da Embrapa foi reduzido em 80%, e a organização estima a necessidade de “R$ 510 milhões como referencial para fazer frente aos compromissos já em curso pela pesquisa agropecuária com políticas públicas e demandas do setor produtivo e para melhor atuar frente aos desafios emergentes”, segundo disse à reportagem.

Com a escassez de recursos, a Embrapa afirmou que tem adotado uma série de medidas para reduzir seus custos operacionais. A empresa está revisando contratos em fase de finalização, buscando cortar valores, e tem finalizado a implantação de usinas fotovoltaicas em suas Unidades de Pesquisa. Além disso, a Embrapa tem promovido compras coletivas entre suas unidades e negociado isenção de tributos estaduais e federais como parte de sua estratégia de contenção de despesas, afirmou.

A Embrapa também tem buscado novas fontes de financiamento. Atualmente, cerca de 73% dos seus projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação são executados com recursos provenientes de parcerias e captação externa. A empresa também está implementando o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), com o objetivo de aumentar a agilidade no processo de parcerias e gestão de projetos, comentou na nota.

GLOBO RURAL

Compartilhar
Publicado por

Notícias Recentes

Fortunas dos 10 mais ricos do planeta somam quase US$ 2 trilhões, mostra ranking da ‘Forbes’

Quatro empresários com empresas de origem norte-americana são as pessoas mais ricas do mundo neste…

25 minutos atrás

Silvio Santos deixa fortuna de R$ 6,4 bilhões e surpreende mercado

As herdeiras de Silvio Santos revelaram na Justiça que o empresário, que morreu em agosto…

35 minutos atrás

PM Rodoviária descobre esquema de drogas e prende três suspeitos

A Polícia Militar Rodoviária prendeu dois homens, de 26 e 45 anos, e uma mulher,…

43 minutos atrás

Bolsa do Pé-de-Meia será paga para estudantes; veja quanto é e quem tem direito

O Ministério da Educação (MEC) vai pagar uma bolsa para estudantes de licenciatura (cursos de…

1 hora atrás

Eduardo Bolsonaro critica Moraes por pedir convite da posse de Trump

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou suas redes sociais no sábado, 11, para criticar…

1 hora atrás

Prefeito se reúne com engenheiros e arquitetos da secretaria de Gestão da Cidade e Infraestrutura

prefeito Netto Donato e o vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Roselei…

5 horas atrás

Este site faz uso de cookies.