Policial

Ataques de facção a empresas de internet no Ceará: O que se sabe e o que ainda falta esclarecer

Foto: SSPDS/Divulgação

Desde fevereiro deste ano, o Ceará tem enfrentado uma onda de ataques contra empresas provedoras de internet, promovidos pela facção criminosa Comando Vermelho. Os atos, que incluem corte de cabos, incêndios de veículos e disparos contra sedes de empresas, já impactaram pelo menos cinco companhias em Fortaleza e em cidades como Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Caridade. Na quarta-feira (12), uma operação da Polícia Civil resultou na prisão de 17 suspeitos, mas muitas perguntas ainda permanecem sem resposta.

O que se sabe até agora

Os ataques começaram a ser registrados em fevereiro, com o objetivo de forçar as empresas a repassar à facção parte das mensalidades pagas pelos clientes. As ações são direcionadas principalmente às provedoras que se recusam a ceder às exigências dos criminosos, segundo o delegado Alisson Gomes, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Entre as empresas afetadas estão Brisanet, ACNet, Planeta Net, Giga+ Fibra e A4 Telecom.

A violência escalou rapidamente. Em Caridade, cidade de 22,5 mil habitantes, a conexão de internet chegou a ser interrompida para 90% dos clientes após os ataques. Em São Gonçalo do Amarante, empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém também ficaram sem serviço. Nos últimos dias, pelo menos oito atos criminosos foram registrados, seis deles na semana passada, incluindo o incêndio de um veículo da Brisanet em Caucaia e tiros contra a sede da ACNet no mesmo município.

Na resposta a essa crise, a Polícia Civil deflagrou a “Operação Strike” na quarta-feira (12), cumprindo 12 mandados de prisão e prendendo cinco suspeitos em flagrante. Entre os detidos, dois são apontados como chefes da facção: um homem de 30 anos, preso dias antes por homicídio em Fortaleza, e outro de 21 anos, capturado em São Gonçalo do Amarante com armas e munições. Além disso, 37 mandados de busca e apreensão foram executados, 14 deles em empresas clandestinas de internet suspeitas de colaborar com os criminosos.

O governador Elmano de Freitas anunciou, no sábado (8), a criação de um grupo especial para investigar os ataques, intensificando as ações das forças de segurança. “Estamos tomando medidas concretas para identificar os responsáveis”, declarou o gestor.

O que ainda falta saber

Apesar dos avanços nas investigações, várias questões seguem sem resposta. Não há dados precisos sobre o número total de pessoas afetadas pela interrupção dos serviços, já que nem as empresas nem a Secretaria da Segurança Pública divulgaram estimativas. Em Caridade, por exemplo, a suspensão total da internet foi um protesto das provedoras após os ataques, mas a dimensão do impacto em outras regiões permanece incerta.

Outro ponto obscuro é o alcance da colaboração entre empresas clandestinas e a facção. A polícia investiga se essas operadoras, que atuam sem autorização, estão financiando ou facilitando as ações criminosas. Equipamentos como roteadores e distribuidores de fibra óptica foram apreendidos em bairros de Fortaleza e em Horizonte, mas os detalhes dessa relação ainda estão sendo apurados.

A origem exata das ordens para os ataques também não foi esclarecida. Embora o Comando Vermelho seja apontado como responsável, não se sabe se as decisões partem de lideranças locais ou de uma estrutura maior da facção. Além disso, o prejuízo financeiro, estimado em mais de R$ 1 milhão pelo setor, pode ser ainda maior, mas não há um levantamento oficial.

Impacto e próximos passos

Os ataques têm gerado temor entre trabalhadores do setor e afetado a continuidade dos serviços. A Brisanet, que atua em mais de 200 cidades do Nordeste, informou que está adotando medidas de segurança para proteger seus funcionários e equipamentos, mas evitou divulgar detalhes por questões estratégicas. Em Caridade, a paralisação das atividades das provedoras segue sem previsão de retorno.

A Secretaria da Segurança Pública afirma que as investigações continuam, com apoio da Coordenadoria de Inteligência, para identificar outros envolvidos e coibir novos ataques. Enquanto isso, a população de diversas regiões do Ceará segue lidando com as consequências de uma disputa que transforma a internet, um serviço essencial, em alvo de extorsão e violência.

A onda de crimes expõe a ousadia do crime organizado e o desafio das autoridades em conter sua influência, deixando em aberto até quando esse cenário de insegurança persistirá.

Compartilhar
Publicado por

Notícias Recentes

Santa Casa realiza rodas de conversa em comemoração ao Dia Internacional da Mulher

O Centro Integrado de Humanização (CIH) da Santa Casa de São Carlos promoveu, ao longo…

16 minutos atrás

Entregas mais seguras: Nova lei em SP exige rastreamento e identificação de entregadores

O governador Tarcísio de Freitas sancionou, nesta sexta-feira (14), a Lei nº 18.105, que estabelece…

20 minutos atrás

Policiais Militares de Força Tática concluem curso de direção policial preventiva

Os Cabos PM Sobral e Pereira, integrantes da Companhia de Força Tática do 38º Batalhão…

29 minutos atrás

Golpista se passa por famoso e rouba dinheiro de idoso via PIX

Um idoso relatou ter sido contatado por uma videochamada em seu celular, na quarta-feira, em…

3 horas atrás

Câmara de São Paulo aprova mudança de nome da GCM para Polícia Municipal

Na noite de quinta-feira (13), a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em votação definitiva,…

4 horas atrás

Agressor é preso após esfaquear ex e ser alvo de linchamento em rua pública

Na tarde de quinta-feira (13), em Rio Claro, no Jardim Village, uma mãe foi ferida…

4 horas atrás

Este site faz uso de cookies.