Uma ação em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alega que Leonardo Alves Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, teria cometido crimes de ameaça, coação, fraude e suborno contra dirigentes regionais do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). Esse partido tem como principal candidato nas eleições municipais deste ano em São Paulo Pablo Marçal. Essas acusações, se comprovadas, podem ter sérias implicações para a campanha e para os envolvidos, podendo impactar tanto o partido quanto a candidatura de Pablo Marçal. A situação está sendo acompanhada de perto pelas autoridades eleitorais.
A ação foi apresentada pelos integrantes do partido Rachel de Carvalho, Marcos André de Andrade e Moacir Manoel no dia 19 de julho último. Eles tentam, por meio judicial, tirar Avalanche do comando nacional da legenda. Em liminar no começo deste mês, a ministra Cármen Lúcia rejeitou o pedido de imediato. O mérito ainda será analisado.
De acordo com a ação assinada pelos advogados Luís Felipe Cardoso Oliveira e Ingrid Cunha Dantas, “o presidente do partido (Avalanche) ameaçou a sua vice, mulher, e a fez renunciar a seu cargo” e “afirma a quem quiser ouvir ter influência e negociações com figuras importantes do Judiciário e ligação com o crime organizado (PCC), que poderia matá-la ou alguém de sua família”.
Procurado, por meio de assessoria, Avalanche não respondeu até a publicação deste texto.
Na ação, a defesa afirmou que os fatos estão desprovidos de elementos mínimos de confiabilidade. Pablo Marçal também foi procurado para se manifestar sobre a acusação contra o presidente de seu partido e padrinho político na legenda, mas também não retornou os contatos até a publicação desta reportagem.
De acordo com os autos, Rachel diz ter começado a montar a chapa para a disputa presidencial da legenda no final de 2023, quando foi procurada por Avalanche para formarem um grupo único. Em fevereiro deste ano, eles venceram a disputa. Contudo, Rachel alega ter sido retirada do diretório. Ela foi procurada para se manifestar sobre a ação, mas não foi encontrada.
Uma mensagem via WhatsApp teria sido encaminhada por Avalanche solicitando urgência para que Rachel renunciasse, por meio de ameaças de morte. “Avalanche fez ameaças de morte a Rachel e para sua família, com o objetivo de conseguir a sua renúncia. E conseguiu”, afirmam nos autos. A inicial cita ainda que Avalanche teria montado um grupo para negociar com diretórios do País “posições diretivas no partido e candidaturas para o pleito” deste ano.
Avalanche também, segundo o documento apresentado à Justiça Eleitoral, teria filiado seus adversários em um outro partido para evitar oposição incômoda. Os advogados dizem que foram filiados 77 membros do PRTB no Mobiliza, sem que as pessoas soubessem, para que fossem desfiliados do PRTB. O Estadão confirmou que essas pessoas estão de fato filiadas hoje ao Mobiliza. Os representantes do partido não foram localizados para responder no telefone apresentado pela legenda ao TSE.
Outra ação que tramita no TSE foi movida por Aldineia Fidelix, viúva de Levy Fidelix, então presidente do PRTB. Ela alega que Avalanche não cumpriu acordos para que ela comandasse os diretórios estaduais de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Roraima em um momento de intervenção determinada pela Justiça para pacificar a legenda. A Justiça determinou que Avalanche se manifeste em três dias.
A defesa de Avalanche afirmou nos autos que “em um cenário como o alegado, naturalmente seria o caso de os prejudicados terem se socorrido do Ministério Público para promover a persecução criminal dos fatos ventilados, graves, e não somente após três meses do ocorrido, durante o período de convenções, trazer a lume graves acusações desprovidas de elementos mínimos de confiabilidade”.
A peça é assinada pelos advogados Gustavo Bonini Guedes e Thiago Fernandes Boverio. “Como dito, todas as provas são unilaterais, como as atas notariais e boletins de ocorrência, demandando na investigação e eventual comprovação judicial, distante de um valor probatório minimamente seguro a subsidiar quaisquer das alegações tecidas.”
‘Caos’ no PRTB virou destaque nacional
No dia 29 de maio, o Estadão revelou que Tarcísio Escobar de Almeida comandou por três dias o diretório estadual do PRTB em São Paulo. Escobar foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo em 2023 por associação ao tráfico e ao PCC. Avalanche afirmou que foi pressionado pelo advogado Joaquim Pereira de Paulo Neto, que figurou como presidente em São Paulo após a saída oficial de Escobar, a colocá-lo no comando.
Depois de descobrir que Escobar era investigado, Avalanche disse ter tirado o então presidente do partido. No entanto, Joaquim Neto nega a pressão. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Escobar aparece ao lado de Avalanche para uma sessão fotográfica para o partido. A data do vídeo é 29 de maio – pouco mais de dois meses depois da saída oficial de Escobar. Joaquim Neto, Escobar e também Michel Winter, do PRTB de Minas Gerais, romperam com Avalanche sob argumento de descumprimento de acordos.
ESTADAO CONTEUDO