Tensão entre Gilmar Mendes e Luiz Fux marca sessão do STF

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© Antonio Cruz/Agência Brasil

O desentendimento entre os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux, iniciado nos bastidores do Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira (15), estendeu-se ao plenário e provocou mal-estar entre os magistrados durante o julgamento de um processo trabalhista.

A Corte analisava uma ação sobre o destino de valores obtidos em condenações de ações públicas na Justiça do Trabalho — tema que, segundo a lei, prevê o repasse a um fundo específico. Durante seu voto, Gilmar Mendes desviou o foco do caso para criticar novamente a Operação Lava Jato, classificando procuradores que atuaram na força-tarefa como “cretinos” e lendo trechos de mensagens trocadas entre eles.

Minutos depois da fala, Fux deixou o plenário e não retornou, gesto que, de acordo com ministros ouvidos reservadamente, foi interpretado como uma demonstração de repúdio às declarações do colega.

Gilmar relacionou o processo em análise com o episódio da Lava Jato em que procuradores tentaram criar um fundo bilionário com recursos recuperados da Petrobras, destinado a projetos sociais sob gestão da própria força-tarefa. O ministro afirmou que o caso representou “o principal exemplo de desvio ilegal de recursos públicos”, acrescentando que o Brasil havia criado “um tipo peculiar de combatente da corrupção que gostava de dinheiro”.

Durante sua fala de cerca de 50 minutos, o decano do Supremo também criticou a gestão do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, acusou integrantes da Lava Jato de montar um esquema internacional de compartilhamento irregular de provas e ironizou supostas entregas de documentos “em sacos de supermercado”.

A sessão foi encerrada pelo presidente da Corte, Edson Fachin, após breves intervenções. O clima permaneceu tenso no dia seguinte, e ambos os ministros evitaram se manifestar publicamente.

Segundo relatos, o embate entre Gilmar e Fux começou antes do plenário, durante o intervalo da sessão. Em uma sala anexa, Gilmar ironizou o colega por ter suspendido o julgamento de um recurso de Sergio Moro — que tenta reverter decisão que o tornou réu por calúnia contra o próprio Gilmar. O placar estava em 4 a 0 contra Moro quando Fux pediu mais tempo para analisar o caso.

Testemunhas afirmam que Gilmar provocou: “Vê se faz uma terapia para se livrar da Lava Jato”. Na sequência, mencionou um antigo assessor de Fux, José Nicolao Salvador, demitido em 2016 e citado em uma proposta de delação premiada.

Fux reagiu, afirmando que seu pedido de vista era técnico e que se incomodava com críticas públicas de Gilmar. O ministro, por sua vez, respondeu que falava abertamente sobre o colega por considerá-lo “uma figura lamentável”, citando como exemplo o julgamento de Jair Bolsonaro.

Na ocasião, segundo Gilmar, Fux teria apresentado um voto “excessivamente longo” — de cerca de 12 horas — e absolvido o ex-presidente enquanto atribuía responsabilidade ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Fux, ainda segundo relatos, defendeu sua posição alegando que buscava corrigir o que via como um tratamento injusto aos réus do caso.