O Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido deu um passo histórico ao iniciar, em 2025, os primeiros ensaios clínicos em humanos com sangue artificial produzido em laboratório. A inovação, conduzida por pesquisadores do NHS, busca reduzir a dependência de doações de sangue, especialmente para pacientes com tipos sanguíneos raros ou que requerem transfusões frequentes, como portadores de anemia falciforme.
Desenvolvidas a partir de células-tronco hematopoiéticas, as hemácias artificiais são cultivadas em uma solução nutritiva que simula os processos naturais da medula óssea. Após 18 a 21 dias, essas células se transformam em glóbulos vermelhos, responsáveis pelo transporte de oxigênio, e são filtradas para uso em transfusões. O estudo, que envolve ao menos dez voluntários, compara a durabilidade das hemácias artificiais com as naturais, que têm vida útil média de 120 dias.
Testes pré-clínicos indicaram que as células artificiais podem desempenhar as mesmas funções das naturais e até superar sua longevidade. No entanto, especialistas alertam para desafios. Fernanda Azevedo Silva, hematologista da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que o corpo humano pode rejeitar hemácias artificiais se elas não se adaptarem a vasos sanguíneos estreitos, sendo eliminadas pelo organismo.
Apesar das incertezas, o avanço é considerado promissor. “O desenvolvimento de sangue artificial é um marco, já que tentativas anteriores não prosperaram”, avalia Azevedo Silva. O NHS estima que a tecnologia, ainda em fase experimental, pode levar de 5 a 15 anos para ser implementada, com foco inicial em grupos específicos, como pacientes com sangue raro ou condições crônicas.
Os pesquisadores também vislumbram um futuro em que linhagens celulares produzam hemácias sem a necessidade constante de células-tronco, embora essa perspectiva seja classificada como “futurista” por Mateus Vidigal, do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP. O NHS reforça que mais estudos são necessários para consolidar a técnica, que pode revolucionar a medicina transfusional.