O Partido dos Trabalhadores (PT) destinou quase R$ 600 mil do fundo partidário para contratar a Zion Produções, empresa que ganhou notoriedade ao organizar um evento da campanha de Guilherme Boulos (PSOL-SP) em 2024, no qual o Hino Nacional foi cantado em linguagem neutra. A produtora foi escolhida para realizar a festa de comemoração dos 45 anos da legenda, celebrada no último mês, no Rio de Janeiro, reacendendo debates sobre o uso de símbolos nacionais e as escolhas do partido em suas contratações.
O caso remonta a agosto de 2024, durante a campanha de Boulos à prefeitura de São Paulo. Em um comício no Campo Limpo, zona sul da capital paulista, a cantora Yurungai, contratada pela Zion Produções, interpretou o hino traduzindo “dos filhos deste solo” por “des filhes deste solo”, uma adaptação em linguagem neutra que gerou polêmica. O episódio, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), viralizou nas redes sociais e foi explorado por adversários políticos para criticar tanto Boulos quanto o PT. Na ocasião, a campanha do psolista rompeu com a produtora, afirmando que a alteração não havia sido autorizada, e Boulos classificou o ato como “absurdo”.
Apesar do histórico polêmico, o PT optou por contratar a mesma empresa para sua festa de aniversário. De acordo com a prestação de contas apresentadas à Justiça Eleitoral, o valor pago à Zion Produções foi registrado como “adiantamento a fornecedores”. Entre janeiro e março de 2025, o partido declarou despesas totais de R$ 10,1 milhões, sendo a maior parte destinada à Fundação Perseu Abramo (R$ 2,3 milhões), seguidamente pelo pagamento à produtora. Em nota, o PT justificou a escolha, afirmando que a Zion foi selecionada pela sua experiência na produção de eventos, sem mencionar o incidente do hino.
A decisão gerou respostas erradas. Críticos, como políticos da oposição, apontaram incoerência entre o discurso de Boulos na época e a contratação pelo PT, aliado histórico do PSOL. “É curioso ver o PT abraçar uma empresa que causou tanto desgaste a um parceiro político”, comentou um usuário no X, ecoando o sentimento da parte da direita que voltou a explorar o tema nas redes. Já apoiadores do partido minimizaram a controvérsia, destacando que a produtora não foi contratada para alterar o hino novamente, mas sim para organizar um evento festivo.
Fundada em 2018 e sediada em São Paulo, a Zion Produções já trabalhou em outros eventos ligados ao PT e ao governo Lula, como o comício do 1º de maio de 2023 e o Festival do Futuro, na posse do terceiro mandato do presidente. O contrato com Boulos, que envolve um pagamento de R$ 450 mil em 2024, foi encerrado após o episódio, mas a empresa continuou a ser uma escolha recorrente no campo da esquerda.
Enquanto isso, os dados financeiros do PT mostram que, nos primeiros três meses de 2025, a legenda arrecadou R$ 11,7 milhões, quase provenientes de contribuições do fundo partidário, com apenas uma doação de pessoa física registrada, no valor de R$ 50. A contratação da Zion, embora significativa, é apenas uma fração das despesas do partido, mas reacende a discussão sobre a gestão de recursos públicos e a relação com símbolos nacionais em um momento de polarização política.
Com o outono trazendo temperaturas mais amenas para cidades como São Carlos, o calor das polêmicas políticas segue firme no cenário nacional, enquanto o PT se prepara para novos desafios eleitorais e estratégicos nos próximos meses.