Durante uma visita oficial ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou preocupação com as políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e disparou críticas às recentes tarifas impostas pelo governo americano. Em uma coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (27), em Tóquio, Lula declarou que Trump “não é o xerife do mundo” e alertou que a taxação de produtos importados pode prejudicar tanto o livre-comércio quanto o multilateralismo global.
A declaração veio em resposta às tarifas de 25% sobre aço e alumínio importados, implementadas pelos EUA em 12 de março, que afetam diretamente países exportadores como o Brasil. Para Lula, as medidas unilaterais de Trump são um erro que pode trazer consequências negativas, inclusive para os próprios Estados Unidos. “Isso vai elevar o preço das coisas e pode levar a uma inflação que ele ainda não está percebendo”, afirmou o presidente brasileiro, sugerindo que o aumento de custos pode gerar uma reação em cadeia, com alta de juros e retração econômica.
Lula defendeu que, em vez de impor barreiras comerciais sem diálogo, Trump deveria consultar líderes de outras nações. “Seria importante conversar com os presidentes de outros países, com os políticos, para tomar decisões”, disse, destacando que o papel de Trump se limita a governar os EUA, não a ditar regras ao mundo. Ele também questionou os benefícios das tarifas, citando o Japão como exemplo: “Não sei qual é o benefício de aumentar em 25% as tarifas sobre os carros comprados no Japão. Isso só vai encarecer os carros para os americanos e aumentar a inflação”.
O presidente brasileiro anunciou que o Brasil não ficará de braços cruzados diante da situação. A estratégia do governo será dupla: primeiro, recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar as tarifas; caso a medida não surta efeito, o país adotará a “lei da reciprocidade”, taxando produtos americanos em retaliação. “Não dá para a gente ficar quieto achando que só eles têm razão”, enfatizou Lula, sinalizando uma postura firme contra o que considera um protecionismo danoso.
A visita ao Japão, que terminou nesta quinta-feira, também serviu para reforçar laços comerciais bilaterais. Lula destacou a intenção de avançar em um acordo entre o Mercosul e o Japão, que será uma prioridade quando o Brasil assumir a presidência do bloco econômico no segundo semestre. Ele elogiou a relação histórica entre os dois países, mas apontou a necessidade de revitalizar o comércio, que perdeu força nos últimos anos. “Volto para o Brasil com a certeza de que abrimos uma trincheira importante para o desenvolvimento”, declarou.
Enquanto Trump segue com sua agenda protecionista, Lula aposta no multilateralismo e na cooperação internacional como resposta. A troca de farpas entre os dois líderes evidencia tensões crescentes no comércio global, com o Brasil buscando alternativas para minimizar os impactos das decisões americanas e fortalecer parcerias estratégicas, como a com o Japão. O desenrolar dessa disputa promete agitar os mercados e as relações diplomáticas nos próximos meses.