O cofundador da Microsoft, Bill Gates, prevê uma transformação radical no mercado de trabalho e nos serviços essenciais nas próximas décadas, impulsionada pelos avanços da inteligência artificial (IA). Em entrevista ao comediante Jimmy Fallon no programa The Tonight Show , da NBC, em fevereiro deste ano, o bilionário afirmou que, dentro de dez anos, a IA poderá tornar “conselhos médicos excelentes e tutoria de alta qualidade” acessíveis gratuitamente, permitindo que essas tecnologias tenham o potencial de substituir muitas funções atualmente desempenhadas por médicos e professores.
Gates, conhecido por sua visão futurista e investimentos em tecnologia, destacou que os recentes progressos na área da IA abrem caminho para o que ele chama de “inteligência livre”. Esse novo estágio, segundo ele, democratizará o acesso a serviços complexos, como diagnósticos médicos precisos e educação personalizada, que hoje dependem de profissionais altamente especializados. “Na próxima década, isso se tornará comum”, declarou o empresário, enfatizando que a rapidez dessa mudança pode ser “profunda e até um pouco assustadora”.
Em outro momento, numa conversa com o professor de Harvard Arthur Brooks, Gates reforçou sua previsão, apontando que a IA tocará quase todos os aspectos da vida cotidiana – desde assistentes virtuais mais eficientes até avanços na medicina. Ele citou como exemplo um desafio lançado à OpenAI em 2023: desenvolver um modelo de IA capaz de obter nota máxima em um exame de Biologia do ensino médio norte-americano. “Eu consegui que levaria anos, mas eles conseguiram em poucos meses”, escreveu Gates em seu blog, classificando o feito como o “avanço mais importante em tecnologia desde a interface gráfica dos anos 1980”.
A visão de Gates, no entanto, não é unânime. Mustafa Suleyman, CEO da Microsoft AI e autor do livro The Coming Wave , alerta que os avanços da IA podem ser “extremamente desestabilizadores” para o mercado de trabalho. Ele argumenta que, embora a tecnologia amplifique temporariamente a inteligência humana, seu impacto a longo prazo substituirá empregos. Por outro lado, há quem veja na IA uma oportunidade de criar novas funções e contribuições para o crescimento econômico, desde que acompanhado de orientação responsável.
Apesar das incertezas, Gates mantém otimismo. Ele admite que algumas atividades, como o entretenimento esportivo, serão parcialmente automatizados, mas acredita que setores como agricultura, logística e produção estão no caminho de uma ampla automação. “Se eu fosse começar um negócio hoje, seria uma startup de IA”, afirmou à CNBC em setembro de 2024, sinalizando sua confiança no potencial transformador da tecnologia.
A previsão de Gates levanta debates sobre o futuro do trabalho e da educação. Enquanto alguns especialistas têm o desemprego em massa, outros apostam que a IA pode aliviar a escassez de médicos e professores, especialmente em regiões pobres, como apontado pelo próprio bilionário em entrevista à CNN em 2024. Para ele, a “inteligência gratuita” pode ser uma “oportunidade fantástica” para reduzir desigualdades, desde que os investimentos sejam bem direcionados.
Com a IA avançando a passos largos, o mundo se prepara para uma era de mudanças sem precedentes. Resta saber como a sociedade se adaptará a essa revolução tecnológica que, segundo Gates, está apenas começando.