O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu nesta segunda-feira nomear o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para assumir a função de Secretário-Geral da Presidência da República, cargo com status de ministro que substitui Márcio Macêdo, ocupante da pasta desde janeiro de 2023.
Uma nomeação de alto simbolismo
Boulos, 43 anos, lidera historicamente o movimento de sem-teto (MTST) e filiou-se ao PSOL em 2018. Eleito deputado federal em 2022 com ampla votação no estado de São Paulo, chega agora ao Planalto com a missão de “colocar o governo nas ruas”, conforme suas próprias palavras. A mudança sinaliza um reposicionamento estratégico do governo Lula, que intensifica a aproximação com a base política de esquerda organizada e com pautas sociais mais marcadas.
Desafios e tensões à vista
A nomeação vem em momento crucial: o presidente busca consolidar apoio para uma provável candidatura à reeleição em 2026 e, simultaneamente, evitar a perda de legitimidade entre os setores mais alinhados às causas populares. Boulos herda o desafio de articular políticas internas e externas, propondo maior presença do Estado em comunidades e periferias, mas também terá de administrar tensões internas da coalizão de governo, que reúne partidos e frentes ideológicas diversas.
Adicionalmente, será necessário gerenciar as expectativas de movimentos sociais que aguardam políticas contundentes de moradia, trabalho e direitos urbanos, sem que isso conflite com as exigências da governabilidade e das negociações com o setor privado. A pasta que ele ocupa concentra atribuições estratégicas, como a coordenação entre ministérios, interlocução com o Congresso e articulação política-institucional — tarefas que exigem tato, pragmatismo e liderança.
O que muda para o governo?
Com Boulos à frente da Secretaria-Geral, o governo dá ênfase à dimensão simbólica da esquerda — mostrando que quem lutou nas ruas pode agora moldar as decisões no Planalto. Ao mesmo tempo, o perfil do novo secretário amplia a visibilidade dos temas de habitação, desigualdade urbana e mobilização popular dentro do núcleo duro da gestão federal. Sob seu comando, espera-se também maior transparência e abertura à comunicação com a sociedade civil.
O que está em jogo
Para Boulos, o cargo representa uma chance histórica de transformar visibilidade em poder real. Mas o risco é alto: se as promessas de “virar o jogo” não se refletirem em resultados concretos, as críticas internas podem se intensificar. Para Lula, trata-se de ajustar o tabuleiro político antes da largada para 2026, reforçando a imagem de um governo que se conecta com os clamores populares. A nomeação, portanto, é ao mesmo tempo aposta e teste, que pode redefinir rumos políticos nos próximos anos.
Em resumo: Boulos não chega ao Planalto apenas como símbolo, mas como peça central de uma nova fase de articulação política e governamental — com desafios gigantescos e visibilidade total. O que aconteça em sua gestão poderá marcar o tom da governança Lula para o ciclo que se abre daqui para frente.
