Foto: Vinícius Cassela/g1
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) anunciou que permanecerá acampado no plenário de uma das comissões da Câmara dos Deputados durante todo o fim de semana, intensificando sua greve de fome iniciada na quarta-feira (9). O protesto é uma resposta ao processo que pode resultar na cassação de seu mandato, após ele ser acusado de agredir um membro do Movimento Brasil Livre (MBL) em abril de 2024. A Câmara informou que oferecerá “todo o suporte” ao parlamentar, incluindo assistência médica e de segurança.
A decisão de Glauber vem após o Conselho de Ética da Câmara aprovar, por 13 votos a 5, um parecer que recomenda a perda de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. O caso agora aguarda análise no plenário da Casa, que decidirá, por maioria absoluta (mínimo de 257 votos), se a cassação será confirmada. Os dados para essa votação ainda não foram definidos pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Protesto e condições de saúde
Desde o início da greve, Glauber tem se recusado a ingerir alimentos sólidos, consumindo apenas água, isotônicos e, mais recentemente, soro fisiológico, seguindo orientações médicas para evitar desidratação. Segundo sua assessoria, na sexta-feira (11), o deputado completou 59 horas de jejum, foi submetido a exames de sangue e mantém a pressão arterial estável, mas apresenta sinais de fraqueza. Para economizar energia, ele evitou falar com a imprensa, limitando-se a cenas e mensagens curtas, como “está tudo bem”.
O parlamentar está instalado no plenário 5 do Anexo 2 da Câmara, onde passou as últimas noites. Inicialmente, dormiu no chão, mas, a partir da quinta-feira (10), aceitou usar um colchão com travesseiro e cobertor, cedendo à insistência de sua equipe. A Câmara disponibilizou um policial para garantir sua segurança e informou que manterá o suporte logístico durante o fim da semana.
Apoio e críticas
A esposa de Glauber, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), tem acompanhado o protesto, embora precise se dividir com os cuidados ao filho do casal, de três anos. Sâmia criticou a falta de diálogo por parte dos líderes da Câmara, classificando a recomendação de cassação como uma “perseguição política”. “O Glauber disse que vai até essa injustiça acabar, e eu não posso acreditar que os líderes da Câmara naturalizem que tem uma pessoa em greve de fome aqui dentro e não sinta para dialogar”, afirmou. Ela destacou que o Código de Ética prevê punições menos severas, como suspensão, e questionou a ausência de justificativas técnicas para a pena máxima.
Apoiadores, incluindo líderes religiosos, militantes e aliados políticos, têm se revezado no local para prestar solidariedade. Na quinta-feira, um ato ecumênico reuniu representantes de diferentes partes, que rezaram e cantaram em apoio ao deputado. No entanto, os correligionários lamentam a falta de respaldo de outros líderes parlamentares, o que intensifica o sentimento de isolamento no protesto.
Origem do processo
O processo contra Glauber teve início após um incidente em abril de 2024, quando ele expulsou, com empurrões e chutes, um militante do MBL das dependências da Câmara. O episódio, registrado em vídeos, foi denunciado pelo Partido Novo, que acionou o Conselho de Ética. Glauber alega que agiu em “defesa legítima” após provocações e insultos do militante, incluindo ofensas à sua mãe, que faleceu no mês seguinte ao ocorrido. Ele atribuiu a tentativa de cassação a uma retaliação política do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a quem acusa de articular a punição em razão de suas denúncias contra o chamado “orçamento secreto”.
Próximos passos
Antes de ir ao plenário, Glauber pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para questionar a decisão do Conselho de Ética. A estratégia do deputado é usar todos os recursos legislativos e judiciais disponíveis para reverter o processo, que ele considera desproporcional. “É uma tentativa de intimidação de outros parlamentares de esquerda que enfrentam poderosos”, declarou Sâmia Bomfim, reforçando a narrativa de perseguição.
Enquanto o andamento do caso não está definido, Glauber segue firme em sua decisão de permanência na Câmara, modificando o plenário em palco de uma resistência que, segundo ele, é tanto pessoal quanto política. A mobilização promete manter o caso em evidência, mas também levanta preocupações sobre os impactos de uma greve de fome prolongada na saúde do deputado.
Com informações do G1 e da Agência Brasil