Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) desenvolveram um novo modelo de dormente ferroviário polimérico com estrutura em colmeia, que promete revolucionar o transporte ferroviário ao unir sustentabilidade, leveza e alta resistência. O projeto é uma alternativa inovadora aos dormentes tradicionais de madeira, concreto e aço — materiais que apresentam desvantagens ambientais, estruturais e econômicas.
Os dormentes são peças fundamentais na sustentação dos trilhos, responsáveis por manter o espaçamento correto entre eles e suportar o peso e o impacto das composições. A equipe da EESC buscou uma solução mais durável e ambientalmente responsável, utilizando plástico reciclado como matéria-prima principal.
A ideia surgiu há cerca de 20 anos, quando o professor Benedito Purquerio, do Departamento de Engenharia Mecânica, recebeu a demanda de uma empresa interessada em substituir os materiais convencionais por alternativas sustentáveis. O projeto ganhou forma com o uso de polímeros recicláveis e o desenho em formato de colmeia, inspirado nas estruturas naturais construídas por abelhas.
Segundo os pesquisadores, essa configuração interna garante maior resistência e durabilidade, ao mesmo tempo em que reduz o peso e o risco de defeitos durante o resfriamento do material. Além disso, as extremidades do dormente recebem granito sintético, o que aumenta a estabilidade e melhora o amortecimento das vibrações dos trens.
Com a aposentadoria de Purquerio, o trabalho passou a ser coordenado pelo professor Carlos Fortulan, também da EESC. Ele explica que a estrutura vazada facilita o resfriamento do material durante a fabricação e reduz a chance de trincas, tornando o produto mais confiável.
Além do avanço técnico, o projeto também tem forte impacto ambiental positivo. Por utilizar plástico reciclado, contribui diretamente para a redução de resíduos e o reaproveitamento de materiais que levariam séculos para se decompor. “O dormente pode ser fabricado mesmo com impurezas no material, o que facilita o uso de resíduos plásticos mistos”, explica Fortulan.
Atualmente, a patente está na fase 5 de maturidade tecnológica, com testes avançados em protótipos que já apresentam características próximas da versão final. Para a produção em larga escala, será necessário investimento em maquinário industrial.
O projeto da USP São Carlos se destaca não apenas pela inovação técnica, mas também pelo potencial de incentivar a retomada do transporte ferroviário sustentável no Brasil, alinhando tecnologia, economia circular e desenvolvimento nacional.
