Com Terceira Demissão, o “Governo das Mulheres” é Reduzido a Nove

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, na terça-feira (25), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, marcando a terceira saída de uma mulher do primeiro escalão de seu governo. Com a substituição de Nísia pelo atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o número de mulheres na Esplanada dos Ministérios cai para nove, um patamar inferior ao registrado nos dois primeiros mandatos de Lula e também ao início do governo de Dilma Rousseff (PT).

Lula assumiu seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, com um recorde de 11 ministras, superando a marca inicial de Dilma, que começou sua gestão em 2011 com nove mulheres em um total de 37 pastas. No entanto, apesar de dizer que seria o governo das mulheres, as recentes movimentações políticas reduziram essa representatividade. A primeira baixa feminina ocorreu em julho de 2023, quando a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, foi substituída por Celso Sabino, uma troca articulada para fortalecer a base do governo no Congresso com o União Brasil. Em setembro do mesmo ano, Ana Moser deixou o Ministério do Esporte para dar lugar a André Fufuca (PP), em mais uma concessão ao Centrão. Agora, com a saída de Nísia, o governo registra uma diminuição significativa na presença feminina, passando de 30% para pouco menos de 24% das 38 pastas atuais.

A gestão de Dilma, por sua vez, terminou com um total de 14 mulheres tendo passado pelo primeiro escalão ao longo de seus dois mandatos, enquanto Lula, em seus dois primeiros governos (2003-2010), contou com dez ministras no total. No início de seu primeiro mandato, em 2003, eram apenas cinco. Já o atual cenário, com nove ministras, reflete um recuo em relação às expectativas iniciais de diversidade de gênero que marcaram o discurso de posse do petista.

Entre as mulheres que permanecem no governo estão nomes como Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Marina Silva (Meio Ambiente), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Margareth Menezes (Cultura), Cida Gonçalves (Mulheres), Anielle Franco (Igualdade Racial), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e a recém-empossada Macaé Evaristo (Direitos Humanos), que assumiu após a saída de Silvio Almeida em 2024. Apesar disso, a substituição de Nísia por um homem reacende críticas sobre a perda de espaço feminino no alto escalão.

A demissão de Nísia Trindade ocorre em meio a uma reforma ministerial que visa fortalecer o governo tanto no Congresso quanto junto ao eleitorado, após quedas na popularidade de Lula. Padilha, que assume a Saúde em 6 de março, já ocupou o cargo durante o governo Dilma e é visto como um perfil mais político para dar visibilidade a programas como o Mais Especialidades, uma das apostas do Planalto. A saída da ex-ministra, que foi a primeira mulher a comandar a pasta da Saúde, também reflete insatisfações internas com a falta de resultados práticos e dificuldades de articulação política, apesar de seu perfil técnico ter sido inicialmente elogiado.

A redução no número de ministras coloca o governo Lula em um contraste histórico: enquanto superou gestões anteriores de Fernando Henrique Cardoso (duas mulheres), Fernando Collor (duas) e Michel Temer (nenhuma no início), ainda fica aquém do ápice alcançado por Dilma. O movimento evidencia os desafios do governo em equilibrar representatividade de gênero com as demandas políticas de uma base aliada fragmentada, especialmente com o Centrão, que tem pressionado por mais espaço na Esplanada.

Com essa mudança, o terceiro mandato de Lula, que começou como o mais diverso em termos de gênero, agora enfrenta o desafio de manter o compromisso com a paridade enquanto busca sustentação política para os dois anos finais de gestão.