Um estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) aponta que os brasileiros precisaram dedicar 149 dias de trabalho, até 29 de maio de 2025, exclusivamente para pagar impostos, taxas e contribuições aos governos federal, estadual e municipal. O percentual, equivalente a 40,82% da renda média anual, permaneceu estável em relação ao ano anterior, mas reflete a alta carga tributária enfrentada pela população.
O Brasil segue na lanterna do Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade (IRBES), que avalia o retorno dos tributos em serviços públicos como saúde, educação e segurança nos 30 países com maior carga tributária. Apesar de cobrar impostos em níveis comparáveis aos de nações desenvolvidas, o país continua a oferecer serviços públicos de baixa qualidade, segundo o IBPT.
Fatores que elevaram a carga tributária
Em 2025, o bolso do contribuinte sentiu o impacto de mudanças como o fim de isenções fiscais, a reoneração da folha de pagamento para 17 setores econômicos e o aumento das alíquotas do ICMS em estados como Minas Gerais, Bahia e Ceará, que ajustaram a cobrança para 20% visando maior arrecadação com o futuro Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Além disso, a tributação de remessas internacionais de até 50 dólares, via programa Remessa Conforme, e o aumento do IOF adicionaram quatro dias ao período de trabalho necessário para quitar impostos.
Desigualdade no peso dos tributos
A carga tributária varia conforme a faixa de renda. Brasileiros com renda mensal de até R$ 3 mil trabalharam até 29 de maio para pagar seus impostos, enquanto aqueles com ganhos entre R$ 3 mil e R$ 10 mil concluíram essa obrigação em 22 de maio. Para quem ganha acima de R$ 10 mil, a jornada se estende até 5 de junho, devido à maior incidência do Imposto de Renda.
João Eloi Olenike, presidente do IBPT, destaca a disparidade histórica: “Nos anos 1970, o brasileiro trabalhava menos da metade do tempo atual para sustentar o governo. Hoje, pagamos como se estivéssemos em um país rico, mas recebemos serviços de país pobre.”
Consumo lidera a carga tributária
O estudo revela que os impostos sobre o consumo, como ICMS e IPI, representam 22,73% da carga total, exigindo 83 dias de trabalho. Os tributos sobre a renda, incluindo o IRPF, consomem 15,06% (55 dias), enquanto os impostos sobre o patrimônio, como IPTU e IPVA, equivalem a 3,03% (11 dias).
Reforma tributária promete transparência
A reforma tributária, em curso, prevê que as notas fiscais detalhem o valor e o percentual dos tributos cobrados, incluindo o IBS, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo. Para o advogado tributarista Samir Nemer, essa medida será crucial: “Mostrar o peso dos impostos na nota fiscal empodera o cidadão, que passa a compreender melhor o impacto tributário em suas compras.”
O levantamento do IBPT abrange o período de maio de 2024 a abril de 2025, considerando todos os tributos diretos e indiretos pagos pelos brasileiros. A alta carga tributária e o baixo retorno em serviços públicos seguem como desafios centrais para o país.