Um ato promovido por entidades ligadas ao PT e ao PSOL reuniu manifestantes na Avenida Paulista neste domingo (30) para protestar contra o projeto de lei que propõe a anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Apesar da mobilização, o evento foi marcado por baixa adesão, contrastando com as expectativas dos organizadores. Lideranças como o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e o líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), discursaram contra a proposta legislativa e aproveitaram para provocar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), recém-tornado réu por tentativa de golpe de Estado.
O protesto teve início na Praça Oswaldo Cruz, no começo da Avenida Paulista, e movimento em caminhada até o prédio que abrigou o antigo Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), símbolo da repressão durante a ditadura militar. Os participantes carregaram cartazes com mensagens como “sem anistia” e referências a uma eventual prisão de Bolsonaro, além de bandeiras do Brasil. A manifestação também coincidiu com a véspera dos 61 anos do golpe militar de 1964, reforçando o tom de defesa da democracia.
Em seu discurso, Boulos afirmou que um governista de base na Câmara dos Deputados está mobilizado para barrar o chamado “PL da Anistia”. Ele aproveitou para alfinetar Bolsonaro: “O mundo gira e nós ainda vamos ter oportunidade de pegar a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e levar a marmita da Cozinha Solidária para ele lá na Papuda”, disse, em referência ao presídio em Brasília. Já Lindbergh Farias destacou a importância na semana seguinte, que considera aspectos decisivos para o destino do projeto, e garantiu que a base do governo está unida para “enterrar de vez” a proposta.
O ato na capital paulista não foi isolado. Outras sete capitais – Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Curitiba (PR), Belém (PA), São Luís (MA), Brasília (DF) e Fortaleza (CE) – também registraram manifestações semelhantes organizadas pela esquerda neste domingo. Em São Paulo, porém, a baixa presença pública reacendeu debates sobre a capacidade de mobilização da esquerda nas ruas. A memória de outro evento esvaziado, o ato das centrais sindicais de 1º de maio de 2024 na Neo Química Arena, em Itaquera, foi evocada. Naquela ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atribuiu o fracasso a uma convocação mal planejada, enquanto tentava realizar a pré-candidatura de Boulos à prefeitura de São Paulo.
O projeto de lei em questão, de autoria do deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), busca anistiar “todos os que tenham participação de manifestações em qualquer lugar do território nacional” desde 30 de outubro de 2022, o que poderia incluir os eventos de 8 de janeiro. Segundo levantamento do Estadão , intitulado Placar da Anistia, mais de um terço dos deputados da Câmara (192 de 424 consultados até sábado, 29) é favorável ao projeto, embora o número ainda seja insuficiente para aprová-lo. O PL conta com apoio unânime do partido de Bolsonaro, enquanto o PT se posiciona contrário. O Centrão, com partidos como o PSD dividido, aparece como fiel da balança.
Nas redes sociais, a oposição ironizou o ato no Paulista. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) publicou que “o vazio de Boulos encheu a Paulista de… vazio”, destacando a baixa adesão. Apesar das críticas, Boulos defendeu a importância de ocupar as ruas: “Nós não podemos deixar o espaço para o bolsonarismo e ficar na defensiva nesta pauta da anistia”, declarou. O debate entre esquerda e direita promete se intensificar nos próximos dias, com a tramitação do PL da Anistia ainda em aberto no Congresso Nacional.